Em uma visita à Tower of London, pude observá-la pelo lado de fora, seus portões e gramado por onde passaram águas ao redor da torre em tempos remotos.
Foi como se eu voltasse no tempo: a torre carrega um misto de beleza e agonia, uma vez que serviu de moradia, de proteção, mas também guarda em suas paredes e nas pequenas janelas com grades de ferro as lembranças das torturas que ocorreram por lá.
Ao longo da caminhada, deparei-me com a Tower Brigde, a ponte que une a torre com os prédios modernos de Londres que se encontram do outro lado do rio.
Os edifícios foram se iluminando lentamente e, quando a noite finalmente chegou, surgiram milhares de luzes e a beleza do contraste entre o antigo e o novo.
De um lado do rio, a torre, que nos remete a um passado distante; do outro, os edifícios futurísticos e iluminados de Londres.
Criando pontes
Não ao acaso, um rio separa os dois cenários, mas diversas pontes os unem.
Assim como na cena descrita, dentro de cada um de nós, existem diversas histórias gravadas, e não podemos ignorar nosso passado, pois não existem apenas prédios modernos dentro de nós.
Cada acontecimento, cenas e experiências que vivenciamos continuam existindo, e assim como a torre, podem não ser como anteriormente ou ter a mesma função, mas continuam lá e podemos revisitá-los quantas vezes quisermos, atribuindo novos sentidos e fantasias a nossas experiências.
A cada nova visita, podemos optar por manter ou não velhos costumes, utilizar a torre que servirá para torturas apenas para ser visitada e manter, em vez dos prisioneiros, paredes com desenhos que transformaram o sofrimento apenas em lembranças.
Somos capazes de utilizar as lembranças de experiências ruins para fortalecer o belo em cada um de nós. O que somos hoje e o que fomos estão todo o tempo caminhando juntos, um constituindo o outro.
O interessante é poder transitar pela ponte que une o nosso passado com o nosso presente, pois só assim teremos uma visão profunda de nós mesmos.
Marina Zema é formada em Psicologia e trabalha com desenvolvimento de pessoas.
Gosta de ouvir para descobrir o mundo particular de cada locutor e assim conhecer melhor seu próprio interior