Você deseja uma vida mais ativa, mas não gosta de academia. Além disso, sente uma falta danada das aulas de balé, ou quer ter a chance de experimentar, já que não teve oportunidade quando era criança. Então, você se lembra daquela novidade “supertendência” do ballet fitness e corre para não perder a matrícula. Calma! Convido-a a parar só um pouquinho e refletir comigo.
A modalidade ballet fitness chegou ao Brasil por meio de Betina Dantas, profissional de dança que iniciou seus estudos no Royal Ballet (Londres) e passou por grandes companhias brasileiras como Quasar Cia de Dança e Grupo Raça. A oferece uma aula leve e divertida, que busca intensificar a repetição dos movimentos semelhantes aos do balé clássico, intercalando-os com exercícios de ginástica. Apesar de bem fundamentada, há alguns questionamentos acerca da modalidade que merecem ser pensados e discutidos. E o primeiro deles começa com “fitness”.
É inegável o poder de venda que carrega esse termo, considerando a sociedade imagética em que vivemos. Então, a novidade invadiu as academias brasileiras, assim como novas tendências invadem todos os dias as vitrines dos shoppings. O que acontece é que, para variar, as academias e, especialmente, a mídia oferecem a atividade como um milagroso e infalível esculpidor de corpos. Ou seja, a falta de informação é enorme, e maior ainda é a quantidade de informação equivocada que circula.
A intenção não é desmerecer as pessoas que procuram essa atividade. Mas eu penso: você sente falta do balé ou quer começar do zero, mesmo depois de mais velha? Procure uma escola de dança e faça aulas de balé clássico adulto. Elas oferecem uma carga mais leve, sem aquela pressão das aulas convencionais – o mesmo que oferece o ballet fitness, com a (enorme) diferença de que, nas aulas de balé clássico, não só a técnica, mas também a essência do balé como arte pode ser vivenciada de uma forma mais plena e verdadeira.
Você vai ficar fininha? Sim, seu corpo vai ficar mais definido, mas só se você trabalhar com consciência, dedicação e muito suor. O balé não faz promessas publicitárias nem garante perdas estatísticas de massa corporal; ele representa um desafio muito mais profundo. A finalidade é ser/espiritual, e não parecer/corporal. O resultado físico é mera consequência.
Em entrevista ao blog “Anita Bem Criada”, Betina esclarece que sua intenção ao implantar a nova modalidade física não é ofender o balé clássico. Ela criou mais uma opção para quem quer se exercitar. As pessoas são livres para fazer natação, lutar judô e até mesmo praticar ballet fitness. Mas, para mim, trata-se de mais uma brecha para a banalização da arte, talvez não pelas mãos de sua criadora, mas sim pelo modo superficial como boa parte da sociedade acaba absorvendo tudo isso.
Natália Faria é jornalista e bailarina, ambas atividades de formação e coração. Atualmente trabalha com planejamento de conteúdo na agência WH²F.
Revista Facebrasil – Edição 47 – 2015