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quinta-feira, abril 18, 2024

As pegadinhas do ballet fitness

Você deseja uma vida mais ativa, mas não gosta de academia. Além disso, sente uma falta danada das aulas de balé, ou quer ter a chance de experimentar, já que não teve oportunidade quando era criança. Então, você se lembra daquela novidade “supertendência” do ballet fitness e corre para não perder a matrícula. Calma! Convido-a a parar só um pouquinho e refletir comigo.

A modalidade ballet fitness chegou ao Brasil por meio de Betina Dantas, profissional de dança que iniciou seus estudos no Royal Ballet (Londres) e passou por grandes companhias brasileiras como Quasar Cia de Dança e Grupo Raça. A oferece uma aula leve e divertida, que busca intensificar a repetição dos movimentos semelhantes aos do balé clássico, intercalando-os com exercícios de ginástica. Apesar de bem fundamentada, há alguns questionamentos acerca da modalidade que merecem ser pensados e discutidos. E o primeiro deles começa com “fitness”.

É inegável o poder de venda que carrega esse termo, considerando a sociedade imagética em que vivemos. Então, a novidade invadiu as academias brasileiras, assim como novas tendências invadem todos os dias as vitrines dos shoppings. O que acontece é que, para variar, as academias e, especialmente, a mídia oferecem a atividade como um milagroso e infalível esculpidor de corpos. Ou seja, a falta de informação é enorme, e maior ainda é a quantidade de informação equivocada que circula.

A intenção não é desmerecer as pessoas que procuram essa atividade. Mas eu penso: você sente falta do balé ou quer começar do zero, mesmo depois de mais velha? Procure uma escola de dança e faça aulas de balé clássico adulto. Elas oferecem uma carga mais leve, sem aquela pressão das aulas convencionais – o mesmo que oferece o ballet fitness, com a (enorme) diferença de que, nas aulas de balé clássico, não só a técnica, mas também a essência do balé como arte pode ser vivenciada de uma forma mais plena e verdadeira.

Você vai ficar fininha? Sim, seu corpo vai ficar mais definido, mas só se você trabalhar com consciência, dedicação e muito suor. O balé não faz promessas publicitárias nem garante perdas estatísticas de massa corporal; ele representa um desafio muito mais profundo. A finalidade é ser/espiritual, e não parecer/corporal. O resultado físico é mera consequência.

Em entrevista ao blog “Anita Bem Criada”, Betina esclarece que sua intenção ao implantar a nova modalidade física não é ofender o balé clássico. Ela criou mais uma opção para quem quer se exercitar. As pessoas são livres para fazer natação, lutar judô e até mesmo praticar ballet fitness. Mas, para mim, trata-se de mais uma brecha para a banalização da arte, talvez não pelas mãos de sua criadora, mas sim pelo modo superficial como boa parte da sociedade acaba absorvendo tudo isso.

Natália Faria é jornalista e bailarina, ambas atividades de formação e coração. Atualmente trabalha com planejamento de conteúdo na agência WH²F.

Revista Facebrasil – Edição 47 – 2015

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