Criatividade, Coragem e os Riscos de Empreender por Necessidade
A busca por sobrevivência que vira oportunidade
Chegar aos Estados Unidos é, para muitos brasileiros, um ato de coragem e esperança. Em meio a um novo idioma, regras desconhecidas e um ritmo de vida diferente, o sonho americano ganha formas diversas e, quase sempre, urgentes. É comum ver recém-chegados descobrindo talentos que nunca imaginaram ter. Um bolo caseiro vira negócio, um serviço de limpeza se transforma em empresa, um artesanato improvisado começa a vender online. Nasce, assim, um dos traços mais marcantes da comunidade brasileira nos EUA: a capacidade de se reinventar.
Mas junto da criatividade, há também o improviso. Muitos desses “novos talentos” surgem da necessidade de pagar as contas, não de um planejamento empresarial. E é aí que mora o risco.
Empreender sem preparo: um fenômeno em crescimento
Nos últimos anos, o número de pequenos negócios criados por brasileiros na Flórida, Massachusetts e Nova Jersey cresceu significativamente. Segundo dados de associações comunitárias locais, mais de 60% dos empreendimentos brasileiros abertos nos EUA são informais ou iniciam sem planejamento de marketing, sem noção de precificação e sem entender o público americano.
A dinâmica é simples: a pessoa chega, observa o que outros estão fazendo e decide tentar também. O que parece “inspiração” muitas vezes é apenas um reflexo da urgência em sobreviver. É o que especialistas chamam de “empreendedorismo de necessidade” aquele que nasce não da oportunidade, mas da falta de opções.
“Eu nunca tinha feito unha no Brasil. Aqui, aprendi com vídeos e comecei a atender em casa para pagar o aluguel”, conta Juliana, 32 anos, moradora de Orlando. “Hoje tenho minhas clientes fixas, mas no começo não sabia nada sobre produtos, higiene, nem sobre as regras do condado.”
Quando o improviso custa caro
Esse tipo de improvisação pode gerar consequências sérias. Além da perda financeira, muitos brasileiros acabam enfrentando problemas legais por exercerem atividades sem licenças adequadas ou sem cumprir normas sanitárias e fiscais.
Há também o impacto emocional. A frustração de ver um sonho ruir por falta de preparo é algo que se repete nas histórias da comunidade. “É doloroso ver brasileiros talentosos desistindo porque não sabiam como estruturar o negócio”, afirma a consultora de empreendedorismo comunitário, Carla Almeida. “A boa ideia existe, mas sem estratégia ela não se sustenta.”
Nos Estados Unidos, o mercado valoriza profissionalismo e constância. O público americano costuma confiar mais em empresas com presença online, registro formal e políticas de atendimento claras. Sem esses elementos, a “versão improvisada” do produto ou serviço pode acabar afastando clientes, inclusive os próprios brasileiros.
De sobrevivência à realização: o poder do aprendizado
Apesar dos tropeços, há uma boa notícia: muitos desses talentos evoluem com o tempo. As redes sociais, os cursos gratuitos e as mentorias comunitárias vêm ajudando imigrantes a transformar tentativas em empreendimentos sólidos. O Sebrae Internacional, por exemplo, tem apoiado iniciativas de capacitação voltadas a brasileiros nos EUA, com foco em finanças, marketing digital e formalização.
“Eu comecei vendendo comida por aplicativo, sem saber precificar. Depois fiz um curso e percebi que estava pagando para trabalhar”, conta Marcos, brasileiro que hoje administra um food truck em Miami. “Agora consigo planejar, divulgar e crescer com segurança.”
A diferença entre o improviso e o sucesso costuma estar no conhecimento e na paciência. Entender o mercado local, adaptar-se ao gosto americano e aprender sobre gestão são passos fundamentais para quem quer mais do que apenas “sobreviver na América”.
A responsabilidade da comunidade
Como mídia e como comunidade, o desafio é duplo. É preciso valorizar os novos talentos, mas também orientar. Celebrar o empreendedorismo é importante, mas ainda mais essencial é mostrar o outro lado: a importância de estudar, de buscar orientação e de pensar a longo prazo.
A Facebrasil, há 15 anos, acompanha essa evolução. Viu imigrantes que começaram vendendo doces em casa se tornarem donos de confeitarias reconhecidas, e também viu projetos promissores desaparecerem por falta de base. Por isso, nosso papel é informar, conectar e inspirar, sem romantizar o improviso.
A nova geração de brasileiros na América precisa entender que talento é o começo — mas profissionalismo é o que garante a permanência.
O perigo do marketing improvisado: quando o barato sai caro
Entre os novos empreendedores brasileiros nos Estados Unidos, há um outro fenômeno crescente: o das “agências de marketing” improvisadas. São pessoas que, muitas vezes sem formação na área ou sem entender o mercado americano, oferecem soluções digitais “milagrosas” : criação de sites, campanhas nas redes sociais, logotipos, consultorias e até “mentorias de sucesso”. Em geral, o objetivo é ajudar, mas o resultado nem sempre é o esperado.
É comum ouvir histórias de empresários que investiram economias em um site feito “pelo primo no Brasil” ou em uma campanha online conduzida por alguém que mal domina o inglês comercial. O problema vai além da estética: um erro de tradução, um anúncio mal segmentado ou uma comunicação fora do contexto cultural americano pode destruir a imagem de um negócio antes mesmo que ele tenha chance de crescer.
O marketing não é sorte, é ciência. Envolve planejamento, pesquisa, análise de público, posicionamento e mensuração de resultados. Quando esses princípios são ignorados, o negócio perde direção e confiança.
Muitos dos erros cometidos vêm justamente da falta de observância dos 4 Ps do marketing : Produto, Preço, Praça e Promoção.
- O produto precisa estar adaptado à realidade local: o que encanta no Brasil pode não funcionar no gosto americano.
- O preço deve refletir não apenas o custo, mas o valor percebido e a concorrência local.
- A Praça (ou ponto de venda) muda completamente no ambiente digital: estar “no Instagram” não é o mesmo que ter presença estratégica.
- E a Promoção, que deveria divulgar com propósito e consistência, muitas vezes se resume a publicações aleatórias e sem objetivo.
Essas falhas geram uma consequência grave: a perda de credibilidade da própria comunidade. Quando uma empresa brasileira entrega um serviço mal feito, reforça estereótipos e afasta clientes, inclusive americanos, que poderiam confiar e investir em negócios de imigrantes. “Muitos empreendedores acabam queimando a marca porque não tratam o marketing como algo técnico, mas como um improviso”, explica a especialista em branding e negócios, Ana Luísa Campos. “Nos Estados Unidos, marketing é uma indústria bilionária e altamente profissional. Sem método, você desaparece.”
Por isso, a recomendação é clara: antes de investir em publicidade ou contratar alguém para cuidar da imagem da sua empresa, avalie se o profissional entende o mercado local, o idioma e as regras culturais. Marketing de verdade não é sobre postar todos os dias; é sobre comunicar valor com estratégia e propósito.
Conclusão: Do improviso ao impacto
Os novos talentos da comunidade brasileira são, acima de tudo, expressão de resiliência. Eles mostram que, mesmo longe de casa, o brasileiro não desiste. Porém, é hora de transformar essa força criativa em estratégia. De trocar o “jeitinho” pelo conhecimento e o improviso pela estrutura.
O verdadeiro sucesso não está apenas em pagar as contas do mês, mas em construir um futuro sustentável para si e para toda a comunidade que cresce e prospera nos Estados Unidos.
A Facebrasil, há 15 anos conectando brasileiros no exterior, segue como fonte de informação e inspiração para quem busca prosperar nos EUA, sempre valorizando as histórias de coragem e determinação que moldam nossa comunidade.
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@marcoalevato



