Estados Unidos, Austrália e Reino Unido anunciaram um acordo histórico de segurança no Indo-Pacífico, tendo como principal objetivo conter o avanço da China. Negociado em segredo, o pacto militar, conhecido como Aukus, permitirá por exemplo que a Austrália construa submarinos de propulsão nuclear pela primeira vez, a partir de tecnologia americana.
Os analistas consideram o acordo como um dos mais significativos nas áreas de segurança e defesa desde o fim da Segunda Guerra Mundial. O pacto vai permitir à Austrália a construção de submarinos com propulsão nuclear, com o apoio dos aliados, Estados Unidos e Reino Unido.
A nova parceria busca “promover a segurança e a prosperidade” na região, afirma uma declaração conjunta do presidente dos EUA, Joe Biden, do primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, e de seu homólogo australiano, Scott Morrison. A participação dos três mandatários do anúncio em conjunto por meio de videoconferência ressaltou a importância do pacto para esses países.
“Estamos investindo na maior fonte de força: as nossas alianças. Estamos nos atualizando para enfrentar, da melhor forma, as ameaças de hoje e de amanhã. Estamos ligando os aliados e parceiros da América de novas formas”, afirmou o presidente norte-americano,Joe Biden, ladeado pelas imagens dos líderes britânico e canadense, em imagens transmitidas pelos canais de televisão.
Sobre os submarinos, os Estados Unidos e a Austrália garantiram que Camberra não irá recorrer a armas nucleares, ainda que tenham capacidade para as transportá-las. “Permitam-me ser muito claro: a Austrália não quer obter armas nucleares ou alcançar uma capacidade nuclear civil”, disse Scott Morrison, o primeiro-ministro australiano.
O país é um dos signatários do Tratado de Não Proliferação Nuclear , que visa a impedir a aquisição e o desenvolvimento de armas nucleares.
Ainda assim, este é o primeiro acordo em várias décadas de partilha de informação e tecnologia com capacidade de propulsão nuclear. Antes dessa quarta-feira, a última vez que os Estados Unidos tinha firmado esse tipo de entendimento foi em 1958, com o Reino Unido.
Esses submarinos, que no âmbito do acordo passam a ficar estacionados na Austrália, são muito mais rápidos e difíceis de detectar do que os submarinos convencionais, o que confere maior influência norte-americana na região do Indo-Pacífico.
Camberra torna-se, dessa forma, o sétimo país do mundo a operar submarinos com capacidade nuclear, depois dos Estados Unidos, do Reino Unido, da França, China, Índia e Rússia. Com esse entendimento, cai um acordo assinado pela Austrália em 2016, com a França, para a construção de 12 submarinos convencionais, no valor de 56 bilhões de euros.
Por que construir submarinos com propulsão nuclear?
Esses submarinos são muito mais rápidos e difíceis de detectar do que as frotas com propulsão convencional. Eles podem ficar submersos por meses, viajar por distâncias mais longas e também carregar mais armamento.
Segundo analistas, a presença deles estacionados na Austrália é fundamental para a influência dos EUA na região.
Os EUA estão compartilhando sua tecnologia de submarino pela primeira vez em 50 anos, algo que só havia sido feito com o Reino Unido, seu aliado mais próximo.
Assim, a Austrália se tornará a sétima nação do mundo a operar submarinos com propulsão nuclear, ao lado de EUA, Reino Unido, França, China, Índia e Rússia.
“Isso muda o equilíbrio de poder na região. Se a China enfrentar uma situação militar no Mar da China Meridional ou no Estreito de Taiwan, essa nova parceria militar afetará a resposta que a China terá de preparar”, disse à BBC Yun Sun, codiretora do Programa para o Leste Asiático no Stimson Center, sediado na capital americana.

Fotos revelam que China vem aumentando sua presença militar no Mar do Sul da China / REUTERS
Para John Blaxland, professor do Centro de Estudos de Estratégia e Defesa da Universidade Nacional Australiana, a Austrália tem ganhos claros com a parceria militar, mas por outro lado o país associa seu destino ao dos EUA e dificilmente ele escaparia de se envolver automaticamente em um eventual conflito armado.
Em reação ao anúncio do Aukus, a vizinha Nova Zelândia disse que baniria os submarinos australianos de suas águas, de acordo com sua atual política sobre a presença de submarinos com propulsão nuclear. Segundo a primeira-ministra Jacinda Ardern, seu país, que tem sido mais reticente sobre se alinhar aos EUA ou à China, não foi convidado a aderir ao pacto Aukus.
A Austrália adotava a mesma postura de não alinhamento automático aos EUA ou à China. Mas, segundo especialistas, o avanço do poderio militar chinês na região e as retaliações contra a Austrália levara o primeiro-ministro Scott Morrison a escolher um lado no tabuleiro geopolítico. (Com informações Agência Brasil e BBC)