por Doris Nogueira
Cannabis é o nome científico de um gênero de plantas originárias da Ásia. Existem três subespécies: Cannabis sativa, Cannabis indica e Cannabis ruderalis.
Mas, e a maconha?
— A Cannabis sativa, que dá origem à maconha, possui mais de 500 elementos. Dentre eles: o canabidiol (CBD) e tetra-hidrocanabinol (THC).
THC
Várias pesquisas demonstraram os efeitos nocivos provocados ao corpo pelo THC que é viciante, afeta os sistemas nervoso central e vascular, aumenta o risco de desenvolvimento de doenças do coração e psíquicas. O tetra-hidrocanabinol é a molécula associada ao “barato” do uso recreativo, mas também tem potencial terapêutico em pacientes com glaucoma, no tratamento de espasticidade e náuseas ocasionadas por quimioterapia. Em baixas doses, o THC tem efeito ansiolítico e anticonvulsivante. Em altas doses, por mais paradoxal que seja, pode deflagrar ansiedade e convulsão.
CBD
O CBD diminui os efeitos psicóticos, de ansiedade, dentre outros, provocados pelo THC. Diversas pesquisas demonstram os efeitos positivos do CBD, como anticonvulsivo, no tratamento de doenças como esquizofrenia, epilepsia, Parkinson, Alzheimer e autismo. O canabidiol é uma das mais estudadas substâncias químicas que compõem a cannabis. Dados obtidos até então, indicam que não tem efeito alucinógeno, nem provoca dependência. Segundo os especialistas consultados pela Facebrasil, o êxito da terapia medicinal é encontrar a proporção capaz de produzir alívio dos sintomas com o mínimo de efeito colateral.
A conclusão dos estudiosos é de que a maconha possui elementos com efeito medicinal. Porém, fumar a droga, pura e simplesmente, provoca mais um efeito alucinógeno do que terapêutico.
Quando a maconha cura
Os primeiros registros sobre o uso da maconha com fins medicinais datam de 2.727 a.C e são atribuídos ao imperador chinês Shen Neng, que a prescrevia para o tratamento da gota, reumatismo, malária e para memória fraca. A popularidade da maconha como remédio se espalhou pela Ásia, Oriente Médio e costa oriental da África. Na cultura hindu, religião milenar da Índia, sua utilização está descrita no livro sagrado Atharvaveda. Nele, além do uso medicinal, é descrita como um presente do deus Shiva para a humanidade. Médicos da antiguidade prescreviam maconha para tudo, desde alívio para dor de ouvido até para as dores do parto. Eles advertiam que o uso excessivo poderia provocar impotência, cegueira e alucinações (ver demônios). Com o passar dos anos, a maconha continuou sendo usada com fins medicinais e estudiosos passaram a pesquisar as substâncias extraídas da planta que podem ajudar a aliviar vários males.
A ciência explica como as substâncias canábicas agem no organismo. A superfície das células possui receptores sensíveis aos extratos da maconha, como o CBD e o THC.
- Um desses receptores é o CB1 e encontra-se, principalmente, nas células do sistema nervoso central.
- Os receptores CB2 estão relacionados ao sistema imunológico, fígado, pâncreas, entre outros órgãos.
Ao serem estimulados, os dois receptores auxiliam no equilíbrio das reações fisiológicas do corpo, como dor, humor e apetite. Assim, estimulam a estabilização do organismo promovendo o bem-estar, em um processo conhecido como homeostase.
Potencial terapêutico
Evidências avançadas
Com um bom número de estudos clínicos e achados sólidos
- Epilepsia
- Dores neuropáticas
- Parkinson
- Esclerose múltipla
- Autismo
- Náuseas e vômitos causados pela quimioterapia
- Agitação noturna em pacientes com demência
- Espasmos decorrentes da esclerose múltipla
- Anticonvulsivante
Evidências promissoras
Com aumento no volume de trabalhos científicos
- Fibromialgia
- Depressão
- Ansiedade
- Síndromes genéticas
- Alzheimer
- Mal de Parkinson
- Enxaqueca crônica
- Artrite
- Glaucoma
Evidências iniciais
Com indícios instigantes que precisam ser avaliados em maior escala
- Anorexia
- Esquizofrenia
- Câncer
- Paralisia cerebral
- Distúrbios do sono
- Sequelas de AVC
É muito importante reforçar a necessidade da prescrição médica para os tratamentos com CBD e THC. O principal meio de utilização dos derivados da maconha é o óleo. A via de administração mais comum é a sublingual (de ação imediata), mas também há a oral (cujo efeito demora mais tempo), a nasal, a tópica e por vaporizador.
Maconha no mercado da beleza
O CBD atraiu a indústria cosmética por bons motivos. Rico em vitaminas A, D e E, além de ácidos graxos, é um poderoso coquetel antioxidante. Os últimos congressos mais importantes de dermatologia, como da Academia Americana de Dermatologia, propuseram a relação da performance do CBD com o retardamento do processo de envelhecimento. Outro trunfo desse ingrediente vegetal é o potencial anti-inflamatório, característica que pode ser benéfica para cuidar de problemas de pele comuns, como acne, rosácea e dermatite. Ainda faltam mais estudos para embasar definitivamente tantas expectativas, mas as pesquisas são promissoras. Estima-se que 15% dos produtos de skincare serão impactados pela crescente tendência da Cannabis até 2029.
Mas afinal, por que a maconha foi proibida?
— Tudo começou nos Estados Unidos, nos anos 1920, com a Lei Seca que proibia a produção e comercialização de bebidas alcoólicas. Nesta época, a maconha, que até então era restrita a minorias mexicanas, entrou na vida de muita gente. Depois que o álcool voltou a ser permitido, em 1930, o governo criou o Departamento Federal de Narcóticos, para combater o uso de cocaína e ópio. A maconha também foi incluída na lista de substâncias proibidas. Muito influenciado pelos Estados Unidos, o Brasil começou a reprimir o uso da erva. Vários países criaram leis proibindo o consumo e o comércio da maconha, entre eles: África do Sul, Jamaica, Reino Unido e Nova Zelândia. Por anos a maconha permaneceu criminalizada, até que em 1996 o estado americano da Califórnia legalizou seu uso para fins medicinais. Em 2003, o Canadá se tornou o primeiro país a legalizar a utilização para fins medicinais. Antes dele, a Holanda já havia liberado em 1976, o uso para fins recreativos. Com a franca expansão do uso medicinal, algumas nações vêm flexibilizando as leis que tratam do uso da maconha.
Cannabis pelo mundo
Um relatório do Brightfield Group, especializado em levantamentos sobre o negócio da Cannabis, prevê a movimentação de 22 bilhões de dólares em 2022.
Estados Unidos
Mais de 35 dos 50 estados e a capital regulamentaram a cannabis medicinal. Para fins recreativos, o uso é liberado em 15 estados.
Brasil
Legislação facilitou uso medicinal, mas ainda há entraves à produção e à aquisição no país.
Canadá
Autoriza o uso terapêutico para 39 situações. Quem quiser cultivar para consumo deve pedir aval do governo. O uso recreativo também é liberado.
Israel
Médicos credenciados avaliam os pedidos e orientam os pacientes sobre o tipo e a dosagem a serem consumidos.
Holanda
Com autorização do governo, a iniciativa privada produz remédios e os vende em drogarias. O uso recreativo ocorre em coffee-shops.
Uruguai
Primeiro país a liberar o uso recreativo, permite a compra de produtos em farmácias autorizadas e o plantio da erva.
México
A Câmara dos Deputados aprovou a legalização do uso para fins medicinais e recreativos
Em mais de 40 países o uso como medicamento foi autorizado pelo governo. Uganda, Gana, Ruanda, Lesoto e Malawi, na África, e Líbano, no Oriente Médio, continuam proibindo o consumo, mas estão autorizando o cultivo unicamente para exportação.



