Como a tecnologia pode ser nossa aliada na vida, inclusive tomando conta das crianças, mas até um certo limite.
por Marcelo Rio
É cada vez mais comum vermos crianças e até bebês manuseando celulares, tablets e computadores com extrema perícia. Os pais e avós se sentem orgulhosos, acreditando que aquilo é prova de inteligência de seus pequenos, porém, segundo vários estudos, essa exposição excessiva a dispositivos eletrônicos, não é benéfica tanto para a saúde física quanto mental.
Relatórios da Academia Americana de Pediatria, da Sociedade Canadense de Pediatria e da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria) recomendam que os pais limitem o tempo e filtrem o conteúdo a que seus filhos têm acesso nos dispositivos eletrônicos. “A pediatra e endocrinologista pediátrica Fernanda Presotto Trolezi, comenta: “Hoje, a tecnologia está acessível a todos, incluindo bebês, o que se torna inevitável sua descoberta e utilização. O problema é que a exposição está sendo feita cada vez mais cedo e sendo utilizada por um período prolongado. Os estudos evidenciam que as crianças usam a tecnologia em quantidade de quatro a cinco vezes maior do que a recomendada”.
Segundo os especialistas em pediatria, o ideal é que antes dos dois anos, a criança não tenha nenhuma exposição à tecnologia. Após os dois anos de idade, elas podem começar a ter 30 minutos de acesso a conteúdos previamente selecionados pelos responsáveis. Já após os seis e até os 12 anos, o tempo pode ser estendido para duas horas, controlando o que estão assistindo, jogando ou conversando. Acima dos 12 e até os 18, é possível deixar os filhos por até três horas, mas ainda é preciso saber o que estão vendo e estabelecer um diálogo franco sobre os conteúdos impróprios.
Ainda segundo os especialistas, é muito difícil convencer os pais sobre a necessidade de se impor limites quando o assunto é tecnologia. Isso se deve, dentre outras coisas, pelo fato dos próprios pais passarem muito tempo conectados à internet, seja para trabalho, comunicação ou lazer.
Outro motivo que leva os pais a deixarem seus filhos por horas usando equipamentos eletrônicos, é que eles acreditam que assim as crianças e adolescentes estarão seguros, ao contrário de estarem na rua, realizando outras brincadeiras. A pediatra Kelly Marques Oliveira explica por que isso é um erro. “Atualmente, há muitas brincadeiras perigosas sendo feitas na internet (chamadas também de “desafios”), crianças e adolescentes tentam fazer igual e o resultado pode ser trágico. Há ainda o risco de assistirem a vídeos impróprios, conversarem com pedófilos e a questão do cyberbullying, ou seja, o fato do filho estar quieto num canto com o seu celular, não significa que está a salvo”.
Problemas de saúde
Segundo pesquisas feitas por instituições de diversos países, são vários os problemas que crianças e adolescentes podem apresentar pelo uso excessivo de tecnologia.
Doenças mentais
O uso excessivo de tecnologia pode causar ansiedade, depressão infantil, transtorno do apego, déficit de atenção, psicose e comportamento infantil problemático.
Desenvolvimento cerebral
A exposição à tecnologia pode causar o aceleramento do crescimento cerebral dos bebês, o que gerará problemas como: déficit de atenção, dificuldades de aprendizado atraso cognitivo, aumento da impulsividade e falta de controle das próprias emoções.
Privação de sono
75% das crianças e adolescentes que utilizam produtos eletrônicos à noite, possuem déficit de sono, o que as levam a se sentirem pouco dispostas e com grandes dificuldades de obterem um bom desempenho escolar.
Atraso no desenvolvimento
Crianças que passam muito tempo presas à tecnologia, podem ter limitações dos movimentos e problemas de alfabetização.
Obesidade, diabetes e hipertensão
Nos últimos anos, com a falta de segurança nas ruas e de espaços livres para brincar, as crianças e adolescentes tornaram-se sedentárias. Some-se a isso o fato da tecnologia conseguir entretê-las por muito tempo e praticamente paradas e teremos cada vez mais casos de obesidade, que resultarão em problemas como diabetes e hipertensão.
Agressividade
A exposição a games e vídeos com conteúdo violento, causam um grande impacto sobre as crianças que passarão a enxergar a violência como banal e em muitos casos, até praticá-la.
Dependência
Os estudos ainda são conflitantes quanto à metodologia, mas todos apontam que nos últimos anos, houve um crescimento preocupante no número de crianças e adolescentes dependentes de tecnologia, ou seja, que não conseguem mais ficar sem ela.
Além dos problemas relacionados à saúde, vale ainda destacar que crianças e adolescentes que ficam muitas horas com aparelhos eletrônicos, acabam se tornando antissociais. “Eles se acostumam a viver apenas no mundo tecnológico, tornando o mundo real cada vez menos interessante. Isso faz com que a criança se isole e deixe de desenvolver empatia tornando-se sem amigos, inseguras, e despreparadas para enfrentar pressões“, afirma a doutora Fernanda.
Enfrentando o problema
Independente da idade dos filhos e do tempo que eles estejam usando a tecnologia, é possível realizar mudanças para que esse uso se torne saudável e produtivo. O primeiro passo é um diálogo com eles para explicar o porquê das alterações. Em seguida, é preciso determinar regras e ter disposição para cumpri-las. Veja as dicas mais importantes sobre como melhorar a relação dos pequenos e jovens com a tecnologia:
Determinar horários:
Estipule um limite de minutos ou horas compatível com a idade deles. De 2 a 6 anos = 30min/dia, acima de 6 e até 12 = 2 horas e acima de 12 até 18 = 3 horas. Claro que eventualmente esse tempo pode ser estendido, mas o ideal é que haja uma rotina para que eles a sigam.
Evite o uso à noite:
Para que eles possam ter uma boa noite de sono, é recomendável que não tenham contato com qualquer aparelho eletrônico pelo menos por uma hora antes de irem se deitar.
Conteúdo:
Monitore sempre o que seus filhos estão vendo. Não permita que tenham acesso a jogos ou vídeos de conteúdo violento. Bloqueie sites de conteúdo pornográfico e converse sempre sobre os perigos existentes na internet.
Busque outras brincadeiras:
Para que a criança não se sinta entediada nem se torne sedentária, busque alternativas para ocupar o tempo dela. “Para muitos pais, é difícil arrumar um local para que seus filhos possam brincar, gastar energia, se exercitarem, mas é importante que eles procurem uma escolinha de futebol ou de qualquer outro esporte, levem-nos a parques e façam caminhadas ao ar livre. Aliando o uso moderado da tecnologia com o prazer de desfrutar do mundo real, teremos crianças e adolescentes mais saudáveis e felizes”, afirma a doutora Kelly. Kelly M. Oliveira, Pediatra