A história deste drink é tão inimaginável que bartenders do mundo inteiro discutem se é real ou mito. Vamos embarcar numa viagem que nos leva ao antigo Egito, suas riquezas e excentricidades.
Diz a lenda que certo dia Marco Antônio (meu xará), um célebre militar e político romano, apostou com Cleópatra, a última rainha do Egito, que ela seria incapaz de gastar 10 milhões de sestertius, moeda daquele império, em uma única refeição. A bela e indomável rainha não se conteve e resolveu bancar a aposta.
Segundo o filósofo Plínio, Cleópatra tinha em sua coleção as maiores pérolas do mundo. Duas delas formavam um par de brincos no valor equivalente a 1.600 kg de ouro. Só por curiosidade, um grama de ouro hoje vale em torno de 105 reais – desisti de fazer essa conta! Enfim, Plínio conta, em suas escrituras, que à noite, no jantar, a rainha pediu um copo de vinagre, mergulhou um dos seus brincos, esperou que a pérola fosse corroída e tomou de uma só vez, para surpresa de Marco Antônio e todos presentes.
Não precisamos de muito esforço para perceber as semelhanças desse drink faraônico com um dos coquetéis mais clássicos de todos os tempos: o Dry Martini. Há quem diga que a receita foi inspirada nessa lenda intrigante.
Seco, rascante, poderoso, o líquido representa o vinagre, e a azeitona, a pérola de Cleópatra.
O preparo dessa bebida apreciada por muitos, que em princípio parece simples, requer cuidados minuciosos. Para não amargar demais, a dosagem deve ser perfeita. Detalhe: a azeitona não é um mero enfeite, ela agrega sabor, e a taça deve estar gelada.
Bem, vamos ao que interessa…
Ingredientes: a receita tradicional leva uma dose e meia de gin, três gotas de vermute dry e uma azeitona graúda de boa procedência, pois ela ajuda a dar um sabor especial à bebida.
Modus operandi: em uma coqueteleira, coloque gelo, o gin, adicione o vermute e “shake it, baby”. Use o coador e sirva numa taça de Martini previamente resfriada, e por último espete a azeitona em um palitinho bem charmoso, deixe-a deslizar suavemente até o fundo da taça, e voilà.
Com o tempo, essa receita clássica ganhou vida própria. Novos ingredientes e personagens entraram para história. Um deles fez sua receita particular tornar-se conhecida no mundo inteiro: Bond, James Bond. Falaremos sobre isso na próxima matéria.
Agora vamos combinar uma coisa? Só não vale misturar vinagre com pérola.
Marquito Santos é músico, compositor e produtor musical. Adora bebericar. Destilado por uns e fermentado por outros, tem como objetivo compartilhar suas incursões no universo etílico.
Revista Facebrasil – Edição 48 – 2015