Em 2025, o mundo das artes marciais celebra um século de Jiu-Jítsu no Brasil. São 100 anos de uma história que ultrapassou fronteiras, moldou campeões e transformou a maneira como o planeta entende o combate corpo a corpo. O que começou como uma adaptação japonesa ganhou alma brasileira e tornou-se uma das maiores expressões de disciplina, estratégia e superação humana.
As origens: do Japão ao Rio de Janeiro
A história do Jiu-Jítsu moderno remonta às tradições dos samurais, que desenvolveram técnicas de alavancagem, estrangulamento e imobilização para se defenderem sem armas. No início do século XX, o mestre japonês Mitsuyo Maeda, conhecido como “Conde Koma”, trouxe esse conhecimento ao Brasil. Em 1914, ele chegou ao país e, após várias demonstrações, estabeleceu-se em Belém do Pará, onde conheceu Gastão Gracie.
Maeda ensinou o jovem Carlos Gracie, que, impressionado com a eficiência da arte, começou a treinar e a transmitir os ensinamentos aos seus irmãos. Foi então que o Brasil ganhou o “Gracie Jiu-Jitsu”, uma versão refinada, adaptada ao biótipo e à mentalidade brasileiros. Mais do que força, o foco passou a ser a técnica e o uso inteligente do corpo.
A revolução dos Gracie
A família Gracie foi o motor que impulsionou o Jiu-Jítsu a um novo patamar. Carlos, Hélio, George e outros irmãos fundaram academias, organizaram desafios e comprovaram, na prática, a eficácia da arte marcial.
Hélio Gracie, considerado o patriarca técnico, adaptou as técnicas para compensar sua compleição mais leve, mostrando que o verdadeiro poder do Jiu-Jítsu reside na alavanca e não na força bruta. Seus duelos lendários, especialmente contra lutadores muito maiores, se tornaram símbolo da filosofia da arte: a vitória da inteligência sobre a força.
Ao longo das décadas seguintes, os filhos e netos da família Gracie, como Rickson, Royce, Royler e Renzo, levaram o legado ao mundo. Foi o início da globalização do Jiu-Jítsu e da criação de um império esportivo e filosófico.
O Jiu-Jítsu e o nascimento do MMA
O marco definitivo da expansão mundial do Jiu-Jítsu ocorreu em 1993, com o lançamento do Ultimate Fighting Championship (UFC). Royce Gracie, representante da família, entrou no octógono e chocou o planeta ao vencer adversários de diferentes estilos: boxeadores, karatêkas e judocas, apenas com o uso do Jiu-Jítsu.
A vitória de Royce mostrou ao mundo que o domínio técnico do solo e a inteligência estratégica podiam superar qualquer modalidade. O impacto foi tão grande que o Jiu-Jítsu se tornou a base do MMA moderno, e hoje é impossível pensar em um lutador completo que não domine essa arte.

Carlos Gracie Jr. e a internacionalização da arte suave
Entre os herdeiros diretos do legado Gracie, um nome se destaca como o grande visionário da expansão global do Jiu-Jítsu: Carlos Gracie Jr. Filho de Carlos Gracie e fundador da Gracie Barra, ele foi o responsável por transformar a arte suave em um verdadeiro movimento mundial.
Com uma visão administrativa e educacional incomparável, Carlos Gracie Jr. acreditava que o Jiu-Jítsu não deveria ser apenas ensinado, mas também organizado com regras, ética, hierarquia e uma estrutura que garantisse a qualidade do ensino em qualquer lugar do planeta. Foi ele quem idealizou o modelo de academias padronizadas, com metodologia unificada, valores claros e compromisso com o desenvolvimento humano dos alunos.
Além disso, Carlos Jr. foi o fundador da IBJJF (International Brazilian Jiu-Jitsu Federation), entidade que profissionalizou o esporte e deu início aos campeonatos mundiais oficiais, colocando o Brasil e o Jiu-Jítsu em evidência definitiva no cenário esportivo internacional.
Graças à sua liderança, a Gracie Barra se tornou uma marca global, presente em dezenas de países e referência em formação técnica e ética. Seu lema “Jiu-Jitsu para todos” resume perfeitamente a filosofia inclusiva que transformou a arte marcial em uma ferramenta de crescimento pessoal e de integração social.
A presença global e os novos embaixadores
Cem anos depois, o Jiu-Jítsu está em todos os continentes. São milhões de praticantes em mais de 180 países. Academias de renome como Gracie Barra, Alliance, Atos, Checkmat, Nova União e muitas outras formam atletas e instrutores que continuam o legado iniciado no Brasil.
Os Estados Unidos se tornaram o novo epicentro da expansão, com eventos como o World Jiu-Jitsu Championship (Mundial da IBJJF), o ADCC (campeonato mundial de grappling) e inúmeras competições regionais que atraem milhares de atletas amadores e profissionais.
O Jiu-Jítsu, mais do que um esporte, virou um estilo de vida: promove a saúde, a disciplina, o controle emocional e uma comunidade global de respeito mútuo. Não importa a idade, o gênero ou a origem, o tatame acolhe todos.
O reencontro das gerações e a força do legado
O centenário do Jiu-Jítsu tem sido marcado por eventos simbólicos que unem gerações. Encontros entre os herdeiros da família Gracie, seminários internacionais e homenagens aos pioneiros lembram que essa história foi escrita com suor, coragem e inovação.
Ver Rickson e Royler Gracie, por exemplo, compartilhando o mesmo tatame com as novas estrelas do esporte é presenciar uma passagem de bastão. Uma confirmação de que o Jiu-Jítsu não é apenas luta, mas também cultura, filosofia e identidade.
Esses encontros representam o espírito da arte: aprendizado contínuo, humildade diante do conhecimento e a certeza de que, mesmo após 100 anos, ainda há muito a evoluir.
O Jiu-Jítsu no Brasil e nos Estados Unidos
O Brasil permanece como o coração cultural do Jiu-Jítsu, com milhares de academias e campeonatos. Mas é nos Estados Unidos que a arte encontrou sua projeção global. Cidades como Los Angeles, Miami, Orlando, Nova York e Las Vegas abrigam centros de excelência e academias fundadas por grandes mestres brasileiros que se tornaram referência mundial.
Na Flórida, por exemplo, o Jiu-Jítsu é parte viva da comunidade brasileira. Famílias inteiras praticam juntas, professores constroem pontes entre gerações e o esporte se transforma em uma ferramenta de integração e de crescimento pessoal.
A filosofia Gracie, baseada no respeito, no autocontrole e na não violência, conquistou escolas, forças de segurança e programas de autodefesa em todo o país.
Mais do que um esporte: uma filosofia de vida
O Jiu-Jítsu ensina que o verdadeiro adversário é o próprio ego. Cada queda, cada estrangulamento e cada vitória no tatame simbolizam os desafios da vida real. É uma jornada de autoconhecimento, na qual se aprende a manter a calma sob pressão, a aceitar derrotas com humildade e a celebrar pequenas conquistas diárias.
Por isso, o centenário do Jiu-Jítsu não é apenas sobre medalhas e títulos. É sobre pessoas transformadas, comunidades fortalecidas e o poder de uma filosofia que atravessou gerações.
O caminho pessoal: de Celebration a Gracie Barra Hunters Creek
A trajetória de quem descobre o Jiu-Jítsu é marcada por pessoas e lugares que deixam marcas profundas e, comigo, não foi diferente. Foi em Celebration, sob a orientação do professor Rodrigo Frezza, que dei meus primeiros passos no tatame na arte suave. Ele foi responsável por despertar em mim não apenas o gosto pela técnica, mas também o respeito pela filosofia e pela disciplina que o Jiu-Jítsu ensina.
Mais tarde, tive a oportunidade de aprender e observar o trabalho exemplar do Professor Ricardo, hoje na Gracie Barra Orlando, cuja dedicação e postura profissional seguem inspirando alunos e colegas. Ricardo é um exemplo de como o Jiu-Jítsu ultrapassa o combate físico, formando líderes e mentores que educam com paciência e paixão. Campeões dentro e fora do tatame.
Atualmente, encontro no tatame da Gracie Barra Hunters Creek um ambiente que representa o espírito verdadeiro da arte suave. Sob o comando técnico do Professor Fox e com o incentivo constante do Coach Marcelo, a academia se tornou mais do que um local de treino: é uma comunidade unida por valores, respeito e amizade. Fox e Marcelo, pai e filhos, têm o Matteo, competidores e campeões em suas categorias, que, juntos, lideram a academia, criando um ambiente familiar e harmonioso. Conduzir cada aula com uma combinação perfeita de técnica refinada e energia humana, criando um espaço em que cada aluno se sinta parte de algo maior.
Treinar em academias como essas é vivenciar diariamente o legado de 100 anos do Jiu-Jítsu: a busca constante pela evolução pessoal e a certeza de que, no tatame, todos somos aprendizes.
Família no tatame: onde corpo, mente e alma se alinham
O Jiu-Jítsu, para mim, transcendeu o esporte e tornou-se parte essencial da vida em família. Hoje, não sou o único a vestir o kimono; meus filhos, minhas noras e até meu neto também compartilham essa paixão. As artes marciais sempre estiveram presentes em nossa trajetória, mas o Jiu-Jítsu trouxe algo ainda mais profundo: um momento de conexão verdadeira entre gerações, em que aprendemos, suamos, rimos e crescemos juntos.
O tatame se transformou em um espaço sagrado de equilíbrio e amizade. É lá que encontramos amigos que viraram irmãos e recarregamos as energias para enfrentar as lutas do dia a dia. A cada rola, a cada queda, aprendemos sobre paciência, humildade e superação lições que se aplicam fora das academias, nas relações, no trabalho e nos desafios da vida.
Como praticante e testemunha dos benefícios dessa arte, deixo um conselho simples, mas poderoso: se você está passando por dificuldades afetivas, emocionais ou financeiras, venha treinar Jiu-Jítsu. No tatame, você vai descobrir que há outras formas de escapar das “finalizações” da vida. E, muitas vezes, o que parecia o fim é apenas o começo de uma nova vitória pessoal.
O futuro: tecnologia, inclusão e novas fronteiras
O futuro do Jiu-Jítsu será marcado pela tecnologia, pelas plataformas de ensino online, pelas academias inteligentes e pelas transmissões globais, mas também por um movimento de inclusão. Cada vez mais mulheres, crianças e pessoas com deficiência estão encontrando no tatame um espaço de crescimento e empoderamento.
A competição é apenas uma das faces; o verdadeiro triunfo está em ver o Jiu-Jítsu se tornar uma ferramenta de paz e equilíbrio em um mundo cada vez mais acelerado.
Conclusão: 100 anos de vitória e gratidão
Celebrar os 100 anos do Jiu-Jítsu é celebrar o Brasil, sua capacidade de reinventar e inspirar. É reconhecer a genialidade dos Gracie e o impacto de uma arte que virou linguagem universal.
Hoje, milhões de pessoas em todo o mundo repetem, consciente ou inconscientemente, a filosofia criada há um século: “Para ser forte, primeiro é preciso ser calmo.”
O Jiu-Jítsu é a prova viva de que o poder não está em dominar o outro, mas em dominar a si mesmo.
Como praticante e testemunha dos benefícios dessa arte, deixo um conselho simples, mas poderoso: se você está passando por dificuldades afetivas, emocionais ou financeiras, venha treinar Jiu-Jítsu. No tatame, você vai descobrir que há outras formas de escapar das “finalizações” da vida. E, muitas vezes, o que parecia o fim é apenas o começo de uma nova vitória pessoal.
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